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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

SEM DESTINO

A brisa desliza suave no pára-brisas do carro
Corro com o pensamento
O vento frio pousa
Máquina enferrujada dentro do peito
Pesada a carga
Vazio o universo e a estrada.

Pablio Motta

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

VÔO RASANTE

As asas estão abertas
Mas o vôo é incerto
Sem rotas, sem plumas, sem gravidade.

Pablio Motta

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

SOLIDÃO ALCOÓLICA


No naufrágio do pensamento colho risos quebrados
E almejo flamejar entre os gritos sem ecos da alma
Pássaros da utopia gritam no silêncio petrificado
O som metálico da ferrugem dos tempos
Palavras de labaredas cortam o espaço na lassidão azul efêmera
Dos enfermos minutos de mórbida solidão
O silêncio é uma página em branco repleta de palavras e de pranto
Entre palavras mordazes e o abandono
Prefiro continuar com meu pensamento insano.

Pablio Motta

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

CAFÉ FILOSÓFICO E CUBOS DE GELO

Chovia.
Nesta tempestade um trovador
Acendeu solidão híbrida
Embebedou-se de utopia
Ao relembrar o juramento dos poetas mortos
Tradutores do silêncio
Divisores do infinito no grito dentro da imagem.

Chovia.
Ao colher a doçura em flores mortas
E folhas secas
A inspiração flutuava
Como se a poesia se desprendesse das letras
E o silêncio não precisasse de tradução.

Chovia.
Nostalgia, êxtase, magia.
Nesta cortina ilusória dos tempos
Que separa os mundos
Uma vírgula.
Todo este oceano é um martírio à alma.

Dentro de mim um grito
Absorvendo tudo como se fosse um dilúvio
E la fora apenas, chovia.

Pablio Motta

TEMPESTADE

A chuva embebedou tarde sem cor
Alinhando-se verticalmente ao horizonte híbrido
Seu murmúrio a gotejar cheiro de terra e vento
Inunda espaço onírico preso em longínquo suspiro

Entre os estrondos enraivecidos dos trovões
Pensamentos tácitos e agônicos evaporam
Meus olhos atingem uma paisagem dançante esverdeada
Movida pelo vento sonoro de um balé

Todo silêncio enclausura dentro do peito
Ao sentir a tempestade insólita violar tardo sorriso
O inverno argênteo respira verde bucólico e farfalhante
Em que o tempo se deita na lassidão deste espaço inerte

O assivio do vento arranha os tijolos e varre o silêncio
Entre a fumaça e turvos pensamentos vejo anuviar o azul
Um dilúvio lentamente engole a tenra tarde
Numa sequência uniforme de profuso amortalhar.

Pablio Motta

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

ESTÁTICA

O vento varre a sombra e os sonhos
A noite venta num invisível grito
Invisível é o espaço de poeira e abismos
Onde flutuam olhos inertes

A alma dorme
E a dor da alma é sonhar. Sugar o infinito
A utopia do mundo seca o coração do naufrágio
Enquanto a insônia modela o abstrato

O tempo trás ecos do passado
Num futuro agônico de gritos e cantos
Mas agora corre o silêncio inerte do vento
Varrendo as sombras e as folhas

Tudo solto no ar está perdido.

Pablio Motta

CANÇÃO DO EXÍLIO


Abnício palavras a proligerar em sons
Vazio é seu olhar ao ouvir-me
Ecos batem. Não ultrapassam o que é sáxeo
Ouça seu coração. Nele se esconde sua essência
Não seja ilacrimável a eclipsar sentimentos
E buscar no silêncio das flores seus próprios espinhos
Cante com amor e as rosas se abrirão para você
Do ínfimo à cúpula a exilar-se no vazio
Não se mate. Salve-se cante e floresça
Ouça a consonância da cenestesia
E se abra flóreo sem deluzir-se na escuridão do mundo frio
No obscurecimento do silêncio em elipse
Separe-se do vazio a misturar-se em dores
No alvorecer seja lucerna a incender o dia
Expanda-se como o vento
Ninguém o vê, mas todos conhecem seu cheiro
Gosto amargo de rosa seca
Nos quatro cantos de um sorriso
O canto venta enquanto o riso quebra o encanto.

Pablio Motta

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

POESIA DE VENTO

O entardecer destas linhas mal traçadas
Diluiu a existência do grito metafórico
Que espalhou cinzas entre os jardins de insônia
Das palavras esconsas entre letras soltas
E rimas de pétalas
Nesta poesia de vento
Que soprou leve em seu ouvido frio
Reticências poéticas deste breve murmurar.

Embora fosse o tempo incapaz de reverter
Este sorriso atrofiado
Este grito embriagado preso em eco de ferrugem
A poesia perderia seu aroma
De flores ou estrumes
Se não houvesse o sexto sentido
Oculto entre a poesia e a gaiola aberta
Preso em um vôo sem plumas rumo ao abismo do anonimato.

Pablio Motta

TERRA NATAL

Nas ruas de Aimorés passam carroças
Passam os trilhos e o trem
E passam meus dias devagar
Vagões de minério. Vagões de mineiro
Voltam sempre vazios (os de minério)
Ou sempre cheios de minério (os de mineiros)

A índia Lorena, hoje estátua na praça
Antes mulher, diz a lenda - linda
Nua se lançou às águas
Muitas águas a do amor; afundou

Despejo meus olhos nas águas do Rio Doce
Antes navegável
Náufrago horizonte a vagar em poucas águas

Mineiro de minério meio sério que sou
De fôlego pesado e coraçao de ferro
Espero nas tardes quentes de 40 graus
O retorno sem trilhos do trem que não volta mais.

Pablio Motta

SOBRANCELHAS ESVOAÇANTES

Como escrever a poesia
Se está mudo por dentro
E o relógio é um espaço sem tempo?

A filosofia cansou os olhos noturnos
O amor perdeu ferramentas
Que consertavam mágoas; produziam o perdão

O dom sem a caneta é utopia
Palavras tétricas penduradas
Nas teias enferrujadas do tempo

A inspiração mistura-se ao fôlego
E respirar poesia é entregar-se a um amor platônico
Ou de Plutão; ou da esquina.

Pablio Motta