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quinta-feira, 31 de março de 2011

SONHOS E CINZAS

Do vazio surguiu o azul a misturar-se no mar
Horizontes se abriram no infinito como flores
No crepúsculo de nossas almas sonhos nascem e morrem
Os silêncios se procuram em abraços distantes
Os caminhos do amor são labirintos
E terminam em abismos. Assim são as palavras
Sonhos feitos de cinzas e cinzas feitas de sonhos
Cineral de uma utopia distante
Os sonhos repousam no horizonte após um breve vôo
São como pássaros em chamas
A queimar o azul rasgando o céu em um beijo triste.

Pablio Motta

segunda-feira, 28 de março de 2011

PEDRAS AO VENTO

Num momento onírico
Luzes dançam em sombras azuis
A c o r d e m  o s  g i r a s s ó i s
Os dinossauros voltaram
OS URUBUS DEVORAM A CARNE MORTA
NÃO HÁ VIDA NESTES VERSOS QUE DEIXEI
O e q u a d o r   m e  d i v i d e  a o  m e i o
Vivo pelas metades
E pelos botecos
A solidão me acompanha em  p a s s o s  largos e   l e n t o s
Meu coração versátil guarda uma mensagem mórbida
De um naufrágio
Efêmero
Os sonhos são almas anônimas
Que vagam a beira de a b i s m o s
MAS A INSÔNIA DEVORA-ME
SOU APENAS UM INSTANTE ONÍRICO EM SUA MENTE.

Pablio Motta

ANJINHO DAS NUVENS

Você me levou às nuvens
E fez de mim um anjinho
Dando-me de pagamento
Seus tão doces beijinhos.

Depois me ensinou a voar
Fui mais veloz que o vento
Tendo você como guia
Dentro do meu pensamento.

Enfim me ensinou a amar
Aí é que eu fui entender
Que eu vivia nas nuvens
Somente pensando em você.

Pablio Motta

terça-feira, 22 de março de 2011

REFLEXÃO

Eu vi cisnes prateados dançando
E flores bélicas em túmulos de heróis
Eu vi o aço nas asas de um falcão
Voando azul no espaço cortante
Eu quis seguir um cometa em um caminho árduo
Mas feito uma flecha atingi um coração inocente
Eu venho falar de sonhos, amor e poesia
E sangra seus olhos e beber seu cúspide
Eu venho calar o silêncio e gritar o seu murmúrio
Venho invadir o seu espaço e beber sua dor
Eu sou a canção esquecida e o toque de recolher
Eu vi os mortos chorando e ilacrimável também chorei
Eu vi borboletas de seda em um azul negro
Um barco sem velas a se perder no mar
Eu vi o escuro a beber a luz
Fechei os olhos e não me vi
Bebi o escuro e vomitei a luz
Abri os olhos e olhei-me no espelho
Vi um reflexo cansado de uma imagem distante
Vi a distância de uma imagem presente em meu próprio reflexo.

Pablio Motta

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

EFEITO BORBOLETA

Abre aspas
Por que este teu sorriso tingiu a tarde
Em tardio efeito radioativo?
Uma palavra arremessada sem direção
Desencadeou uma guerra nuclear
Entre duas paredes
O mundo todo se voltou contra mim
Teu cinismo bombardeando
O universo silencioso desta quarentena.

Alguém gritou pólvora
E um disparo seguiu o projétil coloquial irreversível
Foi a estopilha outrora faiscada em falsos riscos
Que aturdiu sem motivos a borrifar efeito colateral
Dentro deste falso espelho lágrimas plúmbeas
Evaporam o som destas rimas tétricas
Da poesia a solfejar melodia
Entre as brasas mornas do vento.
Fecha aspas.

Pablio Motta

AMPULHETA MOVEDIÇA

Leio no sol a direção do vento
Que trinca o tempo furtivo
Bate e descarrila
Na síndrome dos vagões
o efeito dominó
Nesta vida que saiu dos trilhos.

Pablio Motta

PÓLVORA E SANGUE

Um disparo à queima roupa
Foi tiro ou coração a galope?
Não olhei para trás
Segui pela estrada da vida; sangrando.

Pablio Motta

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

POESIA EM SANGUE E MERCÚRIO

A dor desse profuso instante é sólida
Na exaustão do fôlego almejo labaredas em teu olhar
O que fere modifica a trajetória
Corte raso de concreto a rasgar o abstrato
Há uma ausência presente nesse sentimento
De que os tempos mórbidos cessaram a era onírica
As rosas do amor murcharam
Serei eterno nesse momento efêmero de fumaça
Talvez cinzas do teu ósculo doce
Tenho no peito um escravo
Forte quando sou fraco. Fraco quando sou forte
O amor é a poesia que calou o coração.

Pablio Motta

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

SEM DESTINO

A brisa desliza suave no pára-brisas do carro
Corro com o pensamento
O vento frio pousa
Máquina enferrujada dentro do peito
Pesada a carga
Vazio o universo e a estrada.

Pablio Motta

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

VÔO RASANTE

As asas estão abertas
Mas o vôo é incerto
Sem rotas, sem plumas, sem gravidade.

Pablio Motta

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

SOLIDÃO ALCOÓLICA


No naufrágio do pensamento colho risos quebrados
E almejo flamejar entre os gritos sem ecos da alma
Pássaros da utopia gritam no silêncio petrificado
O som metálico da ferrugem dos tempos
Palavras de labaredas cortam o espaço na lassidão azul efêmera
Dos enfermos minutos de mórbida solidão
O silêncio é uma página em branco repleta de palavras e de pranto
Entre palavras mordazes e o abandono
Prefiro continuar com meu pensamento insano.

Pablio Motta

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

CAFÉ FILOSÓFICO E CUBOS DE GELO

Chovia.
Nesta tempestade um trovador
Acendeu solidão híbrida
Embebedou-se de utopia
Ao relembrar o juramento dos poetas mortos
Tradutores do silêncio
Divisores do infinito no grito dentro da imagem.

Chovia.
Ao colher a doçura em flores mortas
E folhas secas
A inspiração flutuava
Como se a poesia se desprendesse das letras
E o silêncio não precisasse de tradução.

Chovia.
Nostalgia, êxtase, magia.
Nesta cortina ilusória dos tempos
Que separa os mundos
Uma vírgula.
Todo este oceano é um martírio à alma.

Dentro de mim um grito
Absorvendo tudo como se fosse um dilúvio
E la fora apenas, chovia.

Pablio Motta

TEMPESTADE

A chuva embebedou tarde sem cor
Alinhando-se verticalmente ao horizonte híbrido
Seu murmúrio a gotejar cheiro de terra e vento
Inunda espaço onírico preso em longínquo suspiro

Entre os estrondos enraivecidos dos trovões
Pensamentos tácitos e agônicos evaporam
Meus olhos atingem uma paisagem dançante esverdeada
Movida pelo vento sonoro de um balé

Todo silêncio enclausura dentro do peito
Ao sentir a tempestade insólita violar tardo sorriso
O inverno argênteo respira verde bucólico e farfalhante
Em que o tempo se deita na lassidão deste espaço inerte

O assivio do vento arranha os tijolos e varre o silêncio
Entre a fumaça e turvos pensamentos vejo anuviar o azul
Um dilúvio lentamente engole a tenra tarde
Numa sequência uniforme de profuso amortalhar.

Pablio Motta

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

ESTÁTICA

O vento varre a sombra e os sonhos
A noite venta num invisível grito
Invisível é o espaço de poeira e abismos
Onde flutuam olhos inertes

A alma dorme
E a dor da alma é sonhar. Sugar o infinito
A utopia do mundo seca o coração do naufrágio
Enquanto a insônia modela o abstrato

O tempo trás ecos do passado
Num futuro agônico de gritos e cantos
Mas agora corre o silêncio inerte do vento
Varrendo as sombras e as folhas

Tudo solto no ar está perdido.

Pablio Motta

CANÇÃO DO EXÍLIO


Abnício palavras a proligerar em sons
Vazio é seu olhar ao ouvir-me
Ecos batem. Não ultrapassam o que é sáxeo
Ouça seu coração. Nele se esconde sua essência
Não seja ilacrimável a eclipsar sentimentos
E buscar no silêncio das flores seus próprios espinhos
Cante com amor e as rosas se abrirão para você
Do ínfimo à cúpula a exilar-se no vazio
Não se mate. Salve-se cante e floresça
Ouça a consonância da cenestesia
E se abra flóreo sem deluzir-se na escuridão do mundo frio
No obscurecimento do silêncio em elipse
Separe-se do vazio a misturar-se em dores
No alvorecer seja lucerna a incender o dia
Expanda-se como o vento
Ninguém o vê, mas todos conhecem seu cheiro
Gosto amargo de rosa seca
Nos quatro cantos de um sorriso
O canto venta enquanto o riso quebra o encanto.

Pablio Motta

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

POESIA DE VENTO

O entardecer destas linhas mal traçadas
Diluiu a existência do grito metafórico
Que espalhou cinzas entre os jardins de insônia
Das palavras esconsas entre letras soltas
E rimas de pétalas
Nesta poesia de vento
Que soprou leve em seu ouvido frio
Reticências poéticas deste breve murmurar.

Embora fosse o tempo incapaz de reverter
Este sorriso atrofiado
Este grito embriagado preso em eco de ferrugem
A poesia perderia seu aroma
De flores ou estrumes
Se não houvesse o sexto sentido
Oculto entre a poesia e a gaiola aberta
Preso em um vôo sem plumas rumo ao abismo do anonimato.

Pablio Motta

TERRA NATAL

Nas ruas de Aimorés passam carroças
Passam os trilhos e o trem
E passam meus dias devagar
Vagões de minério. Vagões de mineiro
Voltam sempre vazios (os de minério)
Ou sempre cheios de minério (os de mineiros)

A índia Lorena, hoje estátua na praça
Antes mulher, diz a lenda - linda
Nua se lançou às águas
Muitas águas a do amor; afundou

Despejo meus olhos nas águas do Rio Doce
Antes navegável
Náufrago horizonte a vagar em poucas águas

Mineiro de minério meio sério que sou
De fôlego pesado e coraçao de ferro
Espero nas tardes quentes de 40 graus
O retorno sem trilhos do trem que não volta mais.

Pablio Motta

SOBRANCELHAS ESVOAÇANTES

Como escrever a poesia
Se está mudo por dentro
E o relógio é um espaço sem tempo?

A filosofia cansou os olhos noturnos
O amor perdeu ferramentas
Que consertavam mágoas; produziam o perdão

O dom sem a caneta é utopia
Palavras tétricas penduradas
Nas teias enferrujadas do tempo

A inspiração mistura-se ao fôlego
E respirar poesia é entregar-se a um amor platônico
Ou de Plutão; ou da esquina.

Pablio Motta