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sexta-feira, 15 de junho de 2012

ENGANANDO O TEMPO


O telefone está mudo e as cortinas gritam
O silêncio da sala, sentado no sofá
Espera.
Olho para o relógio
As horas passam pela janela
As janelas cansam a paisagem
O tempo dorme.
Por que meu amor não me liga?
O telefone parado parece quebrado
Quem cortou a conexão?
As horas passadas alongam o tempo
De quem espera.
Esperar é cortar as amarras da paciência
Ou simplesmente roer as unhas
Após esperar várias horas em vinte minutos
O telefone tocou
Era engano.

Pablio Motta

sexta-feira, 6 de abril de 2012

TESTAMENTO

Eu não queria que lesse esta poesia
Porque o amor engorda, envelhece,
Muda a direção.
Minhas palavras ficarão registradas
Neste livro empoeirado escondido na estante
Enquanto vermes corroem meu corpo putrefato
Enterrado eu não sei a quanto tempo atrás.
Lágrimas emborrachadas começam a apagar
Esta declaração de amor pendurada no tempo
Que perdura até este momento
Eterno.
(assim esperarei na eternidade o seu sacrifício)
Para que minha lembrança não desapareça
Neste tempo sem data em que o amor resistiu
A nós dois
Entre brigas e enganos;
Mudanças de humor.
A solidão certamente deixará as noites mais turvas e amargas
Cobrindo o tempo de eternidade e silêncio
Mas ao reler estes versos mortos
Você descobrirá que por um segundo me trouxe à tona
Ao sentir minha presença em seu coração.

Pablio Motta

CASA DA SOLIDÃO

O vento gélido da solidão atravessa a sala
Rever velhas fotos é um bálsamo
E reverte esse sorriso frio e branco da noite
A um efêmero êxtase que embriaga a alma

Em meu silêncio ouço gritos que não são meus
Que arranham o céu de minha boca
Que arrastam as palavras dos olhos
A melancolia preenche os espaços desse quarto vazio sem sonhos

A lua da minha janela é bela
Quando miro nela meu olhar inerte
O azul flutua imensurável no espaço vazio
No quintal, folhas secas, grama alta e a velha cerca quebrada

Almejo a paisagem flutuante ausente no luar
O irreal antecede a utopia
Como uma flor que se move
O amor percorre o verbo e imortaliza-se em tempos distantes

Na ausência de feição o coração fez-se sáxeo
Nos gritos de ferrugem dos olhos
Os livros na estante são mudos
Não há poesia no papel que traduza a poesia do coração.

Pablio Motta